Saudações!!!

"O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um criminoso." Bertolt Brecht

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

APENAS UMA VISÃO


 Falar de Filosofia para quem gosta desta área do conhecimento humano é muito fácil ou, talvez seja, porém, quem não aprendeu a gostar mesmo em pleno 3º Milênio é complicado (obscuro ainda mais se pensarmos que contradiz as múltiplas competências e habilidades que o homem moderno tem que se adequar para sobreviver em meio à concorrência que é posto a todo o momento), sobretudo, parte devido a tantos estímulos visuais e auditivos que crianças, jovens e adultos estão sendo expostos, excitações que visam na maioria dos casos apenas o lazer, o divertimento e a incitação a sexualidade como forma de preencher frustrações, conflitos e angústias existenciais.
Vemos uma mídia que “dita” (Dic. Aurélio – ditar = impor) como numa ditadura, o que as pessoas devem assistir, ouvir, digerir e serem ou terem, pois o verbo “Ter” está mandando na situação. Convivemos com pessoas cada vez mais vulgares, ignorantes, inóspitas que teem prazer em bisbilhotar a vida alheia (reality show e certamente a vida do vizinho) e si vangloria mostrando o som do carro com a música da “bicicletinha”, dentre outras. Tudo em prol do não questionamento, do pensamento que é suprimido para dar lugar ao banal, ao frívolo, ao ridículo como forma de beleza e modelo social a ser seguido e, muitos são os seguidores. Está na moda ser ignorante.
O Homem é um ser racional ou, como diria Aristóteles, o “homem é um animal racional”. Mas sobre este juízo vale ressaltar que apenas alguns Homens sabem disso e usam essa racionalidade para conduzi-los a serem o que são e a felicidade como finalidade última de suas vidas. Muitas pessoas buscam a felicidade unicamente no campo das emoções e das paixões, campos que aprisionam e tornam os homens cada vez mais escravos de si mesmos, presos exclusivamente as suas necessidades físicas e caprichos pessoais.
A pergunta que fica é se esse processo de irracionalização, de bestialização perpetuará por mais quanto tempo na história de nossa civilização, pois se for eterno esse movimento farei das palavras de Raul Seixas as minhas, “pare o mundo” que eu também quero descer, mas na próxima galáxia.
Autor: Neuras

Por que já não é hoje amada a filosofia?

“Por que já não é hoje amada a filosofia? Por que suas filhas, as ciências, depois de repartirem entre si a herança, lhe voltam às costas, como as filhas do rei Lear depois de dividido o reino? Tempo houve em que por ela morriam os homens mais fortes: Sócrates preferiu ser um dos seus mártires a viver em luta contra seus inimigos; por duas vezes Platão quase lhe conquistou um reino; Marco Aurélio amou-a mais que ao trono; e Bruno deixou-se queimar na figueira só para não traí-la. Tempo houve em que reis e papas a temiam, e encarceravam os filósofos com medo que eles lhes destruíssem as dinastias. Atenas exilou Pretágoras; Alexandria tremeu diante de Hipatia; um grande papa cortejou humildemente a amizade de Erasmo; regentes e reis disputavam a presença de Voltaire, e roeram-se de ciúmes quando o mundo inteiro se curvou ao centro daquela pena; Dionisio e seu filho ofereceram a Platão o governo de Siracusa; a ajuda de Alexandre fez de Aristóteles o homem mais culto que a história conhece; um rei erudito levou Bacon à liderança da Inglaterra e protegeu-o contra os inimigos; e Frederico o grande, à meia-noite, quando seus pomposos generais iam para a cama, chamava sua hoste de poetas e filósofos para orgias espirituais.
Grandes momentos foram esses para a Filosofia, quando ela monopolizava todas as províncias do saber humano e se punha à frente de todos os movimentos. Os homens honravam-na; nada era tido em conta mais alta que o amor à verdade. Alexandre só via a si próprio acima de Diogenes, e Diogenes pediu-lhe que se afastasse para lhe não tirar, com a interposição de sua real carcassa, o que lhe não poderia dar, o sol. Estadistas, pensadores e artistas enxameavam em torno de Aspasia, e dez mil estudantes vieram em peregrinação a Paris para conhecer Abelardo. A filosofia não era então nenhuma timorata solteirona a esconder-se em torres de marfim, de medo do mundo: seus olhos brilhantes não se arreceavam da luz do sol; vivia perigosamente, fazia longas viagens por mares ignotos. Poderia ela, no tempo áureo em que mantinha corte junto à dos monarcas, contentar-se com a clausura em que vive hoje? Era, naquele tempo, a irisada luz que vinha quente das almas profundas; hoje não passa de humilde satélite de ciências fragmentárias. Foi a orgulhosa senhora do mundo intelectual, com servidores tomados do mais alto; hoje, despida de beleza e poder, vive à margem, sem reverencia de ninguém.
A filosofia já não é mais amada porque perdeu o espírito de aventura. O súbito erguer-se das ciências roubou-lhe um a um os antigos domínios. A “Cosmologia” fez-se astronomia e geologia; a “filosofia natural” tornou-se biologia e física; e até a “filosofia do espírito” passou a psicologia. Todos os grandes problemas que ela tentava resolver foram-lhe arrancados: a natureza da matéria, o mistério da vida e do crescimento; a “vontade”, cuja “liberdade” ela debateu em cem guerras do pensamento, foi triturada no mecanismo da vida moderna; o estado, cujos problemas lhe pertenciam, virou presa de almas pequeninas que pedem cada vez menos conselhos dos filósofos. Nada lhe ficou, exceto os nevados topos da metafísica, os pueris enigmas da epistemologia e as acadêmicas disputas sobre uma moral que já perdeu toda a influência sobre a humanidade. E mesmo estes territórios ainda lhe serão arrancados. Novas ciências surgirão, que os invadirão e os conquistarão, armadas de microscópios e bussolas.
E talvez até o mundo ainda venha a esquecer-se de que a filosofia existiu e foi a grande coisa – a motora dos corações, a criadora do espírito.”
DURANT, Will. A filosofia da vida.