Saudações!!!

"O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um criminoso." Bertolt Brecht

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O amor está no ar!!!

Para aqueles que pensam que numa academia de fisiculturismo, o corpo é o epicentro das atenções está muito enganado. Como diz Taleb em “A lógica do cisne negro”, o desconhecido é tão presente em nossas vidas quanto o conhecido e, nos influencia muito mais do que aquilo que pensamos estar sob nosso controle (sim, somente pensamos, porque no fundo não temos controle pleno daquilo que conhecemos, sempre aparece algo novo, que muda tudo o tempo todo como num “Efeito Borboleta”. Sobre este efeito assista ao filme de nome homônimo). Fui surpreendido com uma problemática filosófica num ambiente que parece mais o berço do narcisismo disfarçado de busca e manutenção da saúde do que o Liceu pautado pela lógica aristotélica. A surpresa foi justamente essa, a academia por uns instantes se transformou nesse espaço de reflexão.
O problema que remonta desde o início da filosofia até hoje (e a filosofia significa na sua etimologia = amor a sabedoria), levou muitos pensadores a refletirem sobre o tema, “amor”. Mas afinal, o que é o amor? Os gregos tinham três concepções distintas para designar esse sentimento. São elas: eros, ágape e fília. Eros diz respeito ao amor que envolve o corpo, os desejos, a sexualidade e enfim, os prazeres carnais de um grosso modo, um sentimento muito parecido à paixão; Ágape diz respeito ao amor que envolve a solidariedade, em latim foi popularizado como cáritas, um amor de caridade, um amor de doação ao próximo, um amor do dar sem precisar nada em troca; Fília diz respeito ao amor de amizade ou fraternidade, mas fraternidade aqui compreendida muito além dos laços de sangue.
Hoje, no século XXI o amor foi banalizado por parte das pessoas que comparam a ideia da modernidade. Que ideia é essa? Simples, a ideia da negação do sofrimento. Ninguém quer sofrimento, frustração, angústia ou coisa do gênero. Mas você pode se perguntar: e em alguma época alguém já quis isso? A resposta é não. Em nenhuma época o homem quis sofrimento. Mas a questão é justamente essa, o homem de 2500 anos atrás é idêntico ao homem de hoje no que tange ao essencial, mas com uma sutil diferença que é peculiar a nossa era, se antes ele enfrentava o sofrimento como algo digno de um herói, hoje é feito tudo para que não haja sofrimento (drogas, eutanásia, mídia, liberalismo e revolução sexual, etc), o homem vive uma fuga de si mesmo.
Se a arte de viver e amar são justamente a arte de aprender a conviver, e esse aprendizado leva muitas vezes a vida toda para se aprender com tropeços/erguidas, alegrias/tristezas, frustrações/conquistas e com isso o surgimento da maturidade necessária ao aparecimento do amor que é próprio das pessoas que conseguem unir o tripé montado pelos gregos para entender esse sentimento em sua plenitude. Pois, o amor eros puro, não passa de desejo, paixão, portanto, passageiro; fília pura, não passa de uma amizade, respeito e fraternidade; ágape puro, no âmbito da caridade, solidariedade, não passa da ajuda ao próximo (este muitas vezes desconhecido). Essas formas de amor isoladas, não configuram o amor pleno de um casal, mas sim, apenas suas representações no seio social. Somente a vivência dos três em um, pode se caracterizar o amor perfeito dos cônjuges conforme uma leitura da ideia de amor para nossa cultura ocidental que é herdeira da filosofia grega como um dos pilares que sustenta o mundo ocidental (lembrete: o pensamento ocidental e/ou a forma de visão de mundo ocidental é oriundo do direito romano, da filosofia grega e dos valores judaico-cristãos)
É sempre atual refletir sobre a problemática do amor para não cairmos em afirmações simplistas, que são corriqueiras do senso comum, sobre simplesmente sua afirmação dogmática ou mesmo sua negação com exemplos que não contribuem a uma elucidação do tema e, sim, mais uma questão retórica que não contribui em nada para um esclarecimento racional.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

APENAS UMA VISÃO


 Falar de Filosofia para quem gosta desta área do conhecimento humano é muito fácil ou, talvez seja, porém, quem não aprendeu a gostar mesmo em pleno 3º Milênio é complicado (obscuro ainda mais se pensarmos que contradiz as múltiplas competências e habilidades que o homem moderno tem que se adequar para sobreviver em meio à concorrência que é posto a todo o momento), sobretudo, parte devido a tantos estímulos visuais e auditivos que crianças, jovens e adultos estão sendo expostos, excitações que visam na maioria dos casos apenas o lazer, o divertimento e a incitação a sexualidade como forma de preencher frustrações, conflitos e angústias existenciais.
Vemos uma mídia que “dita” (Dic. Aurélio – ditar = impor) como numa ditadura, o que as pessoas devem assistir, ouvir, digerir e serem ou terem, pois o verbo “Ter” está mandando na situação. Convivemos com pessoas cada vez mais vulgares, ignorantes, inóspitas que teem prazer em bisbilhotar a vida alheia (reality show e certamente a vida do vizinho) e si vangloria mostrando o som do carro com a música da “bicicletinha”, dentre outras. Tudo em prol do não questionamento, do pensamento que é suprimido para dar lugar ao banal, ao frívolo, ao ridículo como forma de beleza e modelo social a ser seguido e, muitos são os seguidores. Está na moda ser ignorante.
O Homem é um ser racional ou, como diria Aristóteles, o “homem é um animal racional”. Mas sobre este juízo vale ressaltar que apenas alguns Homens sabem disso e usam essa racionalidade para conduzi-los a serem o que são e a felicidade como finalidade última de suas vidas. Muitas pessoas buscam a felicidade unicamente no campo das emoções e das paixões, campos que aprisionam e tornam os homens cada vez mais escravos de si mesmos, presos exclusivamente as suas necessidades físicas e caprichos pessoais.
A pergunta que fica é se esse processo de irracionalização, de bestialização perpetuará por mais quanto tempo na história de nossa civilização, pois se for eterno esse movimento farei das palavras de Raul Seixas as minhas, “pare o mundo” que eu também quero descer, mas na próxima galáxia.
Autor: Neuras

Por que já não é hoje amada a filosofia?

“Por que já não é hoje amada a filosofia? Por que suas filhas, as ciências, depois de repartirem entre si a herança, lhe voltam às costas, como as filhas do rei Lear depois de dividido o reino? Tempo houve em que por ela morriam os homens mais fortes: Sócrates preferiu ser um dos seus mártires a viver em luta contra seus inimigos; por duas vezes Platão quase lhe conquistou um reino; Marco Aurélio amou-a mais que ao trono; e Bruno deixou-se queimar na figueira só para não traí-la. Tempo houve em que reis e papas a temiam, e encarceravam os filósofos com medo que eles lhes destruíssem as dinastias. Atenas exilou Pretágoras; Alexandria tremeu diante de Hipatia; um grande papa cortejou humildemente a amizade de Erasmo; regentes e reis disputavam a presença de Voltaire, e roeram-se de ciúmes quando o mundo inteiro se curvou ao centro daquela pena; Dionisio e seu filho ofereceram a Platão o governo de Siracusa; a ajuda de Alexandre fez de Aristóteles o homem mais culto que a história conhece; um rei erudito levou Bacon à liderança da Inglaterra e protegeu-o contra os inimigos; e Frederico o grande, à meia-noite, quando seus pomposos generais iam para a cama, chamava sua hoste de poetas e filósofos para orgias espirituais.
Grandes momentos foram esses para a Filosofia, quando ela monopolizava todas as províncias do saber humano e se punha à frente de todos os movimentos. Os homens honravam-na; nada era tido em conta mais alta que o amor à verdade. Alexandre só via a si próprio acima de Diogenes, e Diogenes pediu-lhe que se afastasse para lhe não tirar, com a interposição de sua real carcassa, o que lhe não poderia dar, o sol. Estadistas, pensadores e artistas enxameavam em torno de Aspasia, e dez mil estudantes vieram em peregrinação a Paris para conhecer Abelardo. A filosofia não era então nenhuma timorata solteirona a esconder-se em torres de marfim, de medo do mundo: seus olhos brilhantes não se arreceavam da luz do sol; vivia perigosamente, fazia longas viagens por mares ignotos. Poderia ela, no tempo áureo em que mantinha corte junto à dos monarcas, contentar-se com a clausura em que vive hoje? Era, naquele tempo, a irisada luz que vinha quente das almas profundas; hoje não passa de humilde satélite de ciências fragmentárias. Foi a orgulhosa senhora do mundo intelectual, com servidores tomados do mais alto; hoje, despida de beleza e poder, vive à margem, sem reverencia de ninguém.
A filosofia já não é mais amada porque perdeu o espírito de aventura. O súbito erguer-se das ciências roubou-lhe um a um os antigos domínios. A “Cosmologia” fez-se astronomia e geologia; a “filosofia natural” tornou-se biologia e física; e até a “filosofia do espírito” passou a psicologia. Todos os grandes problemas que ela tentava resolver foram-lhe arrancados: a natureza da matéria, o mistério da vida e do crescimento; a “vontade”, cuja “liberdade” ela debateu em cem guerras do pensamento, foi triturada no mecanismo da vida moderna; o estado, cujos problemas lhe pertenciam, virou presa de almas pequeninas que pedem cada vez menos conselhos dos filósofos. Nada lhe ficou, exceto os nevados topos da metafísica, os pueris enigmas da epistemologia e as acadêmicas disputas sobre uma moral que já perdeu toda a influência sobre a humanidade. E mesmo estes territórios ainda lhe serão arrancados. Novas ciências surgirão, que os invadirão e os conquistarão, armadas de microscópios e bussolas.
E talvez até o mundo ainda venha a esquecer-se de que a filosofia existiu e foi a grande coisa – a motora dos corações, a criadora do espírito.”
DURANT, Will. A filosofia da vida.